“Pronta”

Kimiko imaginava que esse gordo alto seria um problema maior dentre os quatros piratas. Ela correria pela lateral, focando os outros dois piratas. Balas seriam mais eficazes do que chicotes contra toda aquela armadura de gordura.

Num primeiro momento, a garota evitava as sardinhas, para não derrapar no chão. Mas aí pensou que seria uma boa ideia usá-las para irritar a mulher, ninguém gostaria de tomar uma “sardinhada” na cara. Kimiko mordeu o lábio inferior, e franziu a testa, segurando o riso, pegou uma sardinha do chão e atirou bem no centro do rosto da mulher. Continuaria fazendo isso até a mulher se irritar o suficiente para querer estreitar a distância entre elas.

“Vai um peixinho aí?”, brincaria.

Logo ela deslizava pelo chão em meia lua em direção a mulher, lançaria o chicote na perna dela tentando fazer com que ela caisse no chão, executando uma acrobacia e um chute em meia lua vertical atingindo o seu rosto. Se ela se mantivesse firme, Kimiko usaria a oportunidade de se puxar e pegar mais impulso, rodeando a mulher em alta velocidade, amarrando ambas as pernas com o cumprimento do chicote. Então puxaria, fazendo com que ela caísse ao chão, pegaria sua pá - se ela tivesse soltado na queda- e bateria com ele na cara da mulher, para desacordá-la - e se a pá não estivesse disponível, repetiria a acrobacia anterior e a atingiria com um chute no rosto.

Seu chicote provavelmente ficaria amarrado nas pernas da mulher, não pararia para desamarra-lo, seguindo para o homem negro choramingando no chão com os próprios punhos. Kimiko colocaria suas duas mãos no chão, girando no próprio eixo com as pernas em escala, e engalfinharia ela no pescoço do homem, parando atrás da sua cabeça, com as pernas entrelaçadas no seu pescoço. Puxaria a cabeça dele para trás, enfiando dois dedos um em cada narina, e daria um golpe com o osso da mão em seu pomo de adão, ferindo gravemente sua traqueia, ele poderia se sentir sufocado e apagar, ou até morrer se o golpe fosse bem executado.

Desamarraria seu chicote, e iria ajudar Caito, pronta para puxa-lo pelo chicote se fosse necessário.

Se tudo saísse como planejado e os três piratas fossem derrotados, Kimiko seguiria o rapaz de cabelo verde com cautela, atenta a armadilhas pelo caminho ou emboscadas.

Se a batalha no convés não estivesse acabado, Kimiko pegaria distância dos adversários, e evitaria o máximo de ataques possíveis.

Um golpe bem dado nas costas, e todo o ar que Kimiko tinha em seus pulmões foram expulsos de uma só vez. A garota caia em meio às cordas, e sentia uma repulsa enorme ao ver ratos pulando e correndo desesperados por todos os lados. Mas que diabos é isso , pensava.

O imundo que parecia fugir igual a um covarde para dentro do navio, surgia com uma placa de metal protegendo a mulher dos tiros de Caito. Ah pronto…, como se não bastasse, o homem atirava pequenas bolas de metal como se fosse um “morteiro”.

“Eles estão tentando fugir!” Kimiko anunciava apontando para os piratas que tentavam fugir em direção ao timão.

Um arrepio subiu imediatamente pela sua espinha, que a fez olhar para seu lado, ficando aterrorizada com o homem gordo que corria em suas direções como um rinoceronte feroz. Merda, merda, merda, merda, merda.

“Correeeeeeeeeee”, gritava para Caito.

A garota correria em direção ao homem com o escudo, tentando trazer o gordão em seu encalço logo atrás. Antes do homem lançar outra bola de metal em sua direção, ou até mesmo chegar perto o suficiente, Kimiko abraçaria a cintura de Caito - se eles estiverem correndo juntos - e lançaria seu chicote para que ele se agarrasse na parte superior do mastro, usando-o como cipó, e se balançando para um lado seguro, tentando fazer com que seus inimigos colidisse um no outro, ou o homem com o escudo atingisse o homem gordo com sua bala de mão.

A situação não parecia estar ficando melhor com o passar do tempo. Os piratas se reagrupavam todos de um lado enquanto ela e Caito estavam do outro, e devagar, o barco se afastava da costa. Um ideia iluminou a sua mente, não havia tempo para um plano melhor, um plano ruim era melhor que plano algum.

"Caito, vamos explodir tudo!" sussurrava.

Kimiko havia se lembrando que nesse mesmo dia mais cedo, quando havia estado nesse barco anteriormente, ele estava repleto de explosivos e armas contrabandeadas. A maioria das cargas, se não todas ainda estavam ali. Vamos explodir tudo, pensou. Pediria o seu parceiro mirar nos caixotes na esperança de gerar uma fagulha que mandasse tudo pelos ares. Enquanto ela mesma, focaria em tirar eles dai quando chegassem a hora, puxando ele junto a ela para o mar.

Cena digna de filme de ação. Caito atirava nas caixas com precisão, um tilintar era ouvido, e antes mesmo que os piratas conseguissem concluir seus gritos de desespero, o barco ia todo pelos ares. Kimiko agarrava seu aliado e pulava ao mar, com destroços e fogo emoldurando a cena. Ambos afundavam na imensidão azul, enquanto lascas de madeiras, restos de caixas e mercadorias perfuravam as aguas ao seu lado. Tiveram sorte por não terem sido atingidos.

Kimiko emergia da água com a elegância de uma sereia, jogando sua cabeça para trás, seu cabelo curto e azul deixando um rastro de gotas translucidas em arco. Ou ao menos era assim que ela se imaginava, após a cena de filme de ação. As pessoas se aglomeravam em volta da explosão. Kimiko saia da água e se aproximava deles.

"Vamos, se afastem, é muito perigoso aqui, circulando... circulando" dizia tentando dispersar a multidão. enquanto vasculhava o local em busca dos corpos dos piratas.

Se não encontrasse ninguém, voltaria a cabeada onde recebeu as ordens do seu superior, relatando ocorrido, e concluindo seu dia.

Enquanto fazia a mala em seu quarto, Kimiko percebeu que tinha muito pouco a se levar, roupas, botas, alguns saches de chás e o seu chicote. Sua mochila não passaria de 7kg provavelmente. Ela ficava orgulhosa de não ser uma acumuladora, mas também estava pensativa e um pouco nostálgica, gostaria de conquistar coisas mais valiosas a partir de agora, talvez ter vários itens carregados de histórias de suas novas aventuras. Seria promovida a sargento, o que não era grande coisa, iria para a tão distante Grand Line Paradise, longe de tudo e de todos que conheciam. Uma nova oportunidade para ser reconhecida pelo que ela era, e não pelo nome de sua família.

"Adeus Longue... digo, até logo!", sorria e ia em direção ao seu novo destino.

Para onde as águas do destino iriam leva-la? Quem conheceria? Contra quem lutaria? Enigmas que só o tempo poderia dizer.