Há aqueles que dizem que os deuses têm sorriso para a população de Loguetown, afinal as ameaças que envolvem o local vem se reduzindo cada vez mais ao passar dos anos. Todavia, muitos também reconhecem o trabalho exercido pela marinha dentro do território, uma administração contundente das tropas que já exerce grande influência em quase todo o East Blue.

A influência do sol nos fios que circundam sua cabeça é fascinante, suas madeixas azuladas que quase beiram a cor negra se mostram mais vívidas, sendo tão convidativas quanto a expressão que floresce em seu rosto; afinal estava prestes a dar um novo passo em meio a um futuro promissor.

Não demorou muito para contornar as vielas e alamedas dessa cidade populosa, onde então pode chegar a uma das intendências da Marinha, um QG recém reformado e totalmente reestruturado para servir como um ponto principal da gestão do atual comandante.

Alguns homens patrulham entre as muralhas da construção, todos ostentam as vestes brancas e bonés que destacam o símbolo da gloriosa força naval que rege na segurança mundana. Poderia ficar boquiaberta com a organização e o modo como marchavam, mas de imediato uma mulher lhe chamou a atenção.

— Perdeu algo, menina? — Disse uma mulher alta com um sotaque diferente, ela tinha uma capa que envolvia seu corpo, carregava um cigarro com uma longa piteira entre seus dedos e usava um boné, os cabelos negros presos em um rabo de cavalo escorriam entre a pequena fresta e quase que chegavam ao fim de suas costas.

Um rapaz que estava bem ao lado rapidamente se agitava, ele era bem menor que aquela mulher posturada, mas ainda assim se aprontou e tomou a frente.

— Senhorita, essa garota trabalha na Casa de Chás Miyazaki, é um dos comércios mais tradicionais da cidade! — Ele tinha um rifle em mãos e quase que não conseguia manusear o armamento durante seus gestos.

A mulher guiou o cigarro até seus lábios rosados, tragando lentamente o tabaco antes de deixar com que a fumaça escapasse pelo mesmo lugar. Os olhos frios e apertados se guiaram de baixo para cima, encarando-a Kimiko, semelhante a uma serpente prestes a dar um bote.

— Não me recordo de termos pedido chá. — Retrucou em um tom afiado. — Pedimos? — Ela lhe questiona, Kimiko.

Imediatamente a mulher cruzou os braços, deixando com que a mão destra ficasse caída para fora enquanto guardava o cigarro, a fumaça surgia um pouco mais fraca da ponta em uma frequência quase que hipnotizante.

Após suas palavras, notou-se apenas um gesto com a cabeça, onde rapidamente o rapaz que lá estava se movimentou e então rapidamente recolheu o envelope que fora estendido.

— Com toda licença. — Ele recuou, abrindo-o de imediato e então virando o conteúdo na direção de sua superior.

Uma única passada de olhos serviu para que pudesse perceber de onde havia vindo aquela carta, os selos da marinha, a assinatura que firmava o rodapé e a escrita formalizada entre os moldes dos superiores. Evidentemente um sorriso floresceu sobre os lábios cheios da mulher, onde então relaxou a própria postura, distribuindo o peso para o seu lado esquerdo e movendo o tronco poucos milémetros.

— Uma recomendação direta de Kenjiro-kun? — Levantou as sobrancelhas e tratou de aplicar um tom mais doce; talvez estivesse desdenhando da situação. — Tudo o que mencionou está descrito na carta… Isso vai livrá-la de seguir a mesma rota que os novos recrutas. — Fez um gesto para que o outro recuasse, ficando livre para tragar mais uma vez o seu cigarro.

Levado ao pretexto e todo o processo de treinamento que passou, a percepção de que uma desenvoltura militar fosse mais presente dentro de um quartel caiu por terra de imediato. É claro, aquela mulher não era a Capitã desse Quartel em si, afinal o mesmo é muito bem conhecido dentro da região, mas ainda assim, ela falava de um modo que parecia se sobressair até mesmo a decisões vindas de cima.

— Dê a ela uma farda e após isso leve-a até o pátio central. — Comenta a mulher, virando-se e então seguindo para a direção contrária.

— Certo, senhorita Mount. — Ele rapidamente firma uma posição de sentido, apoiando a mão direita aberta próxima ao seu boné.

O som dos passos ecoam, como se fossem pesados e tivessem uma estrutura oca.

Alguns segundos se passam até que ela finalmente saia aquele local, onde então o outro recruta encolhe os ombros, deixando uma quantidade significativa de ar escapar pela boca.

— Eu pensei que ela nunca fosse ir… — Ele esfrega a mão no rosto enquanto também começa a se movimentar ali por dentro. — Você é mesmo sobrinha do Vice-Almirante Kenjiro? — Imediatamente ele lhe questiona.

Vocês prosseguem, passando por alguns marinheiros que patrulham o local, estes que agora garante livre acesso para que transitam entre os corredores da construção.

Seguiram caminhando, agora com um ar bem menos rarefeito que antes, já que haviam apenas outros soldados que vagavam de um lado para o outro, mas que em momento algum os impedia de prosseguir.

— Aquela é a Comodoro Alura Mount, ela chegou recentemente no East Blue para avaliar a transição que as tropas andam fazendo dentro de todo o território marítimo. — Ele revira os olhos enquanto comenta sobre a mulher. — Por algum motivo que não sei, assim que ela entrou no quartel apontou para mim e disse que eu seria o seu serviçal, não tive nem como questionar. — Ele ainda mantém o mesmo rifle de antes firme sobre os braços.

É claro, para você, o Vice-Almirante era uma figura familiar querida, um ente pelo qual nutre grande apreço e vice-versa. Entretanto, dentro do esquema hierárquico da marinha, muitos apenas o tratam em respeito ao seu título e nem ao menos fazem ideia de como a sua figura se porta em situação adversa. Assim que comentou aquelas coisas, o jovem marinheiro simplesmente ficou boquiaberto.

— Você deve ser bem poderosa… — Ele comenta em um tom menor. — Digo, você deve ter aprendido muitas habilidades com alguém como o Vice-Almirante Kenjiro. Que inveja. — Ele cola o rifle contra o próprio peito enquanto se perde no mar gigantesco que separava você de um simples cidadão qualquer daquela cidade.

Enfim vocês chegam até um local que ostenta uma porta de madeira bem rígida, um pequeno símbolo talhado sobre ela na figura de uma silhueta feminina representa que era um local voltado para mulheres.

— Inclusive, eu sou Caito Prosbell. Nasci aqui mesmo, em Loguetown… É por isso que eu a reconheci inicialmente, a minha avó adora frequentar a Casa de Chá Miyazaki. — Ele sorri gentilmente enquanto se afasta. — A sua farda estará pronta dentro do vestiário, estarei aqui fora no aguardo para prosseguirmos até o pátio central. Certo?

Assim que entrou, se deparou com um local repleto de armários com fechaduras que continham uma espécie de senha manual a ser colocada, havia um em exceção, este estava aberto e próximo a ele um banco que abrigava as suas vestimentas.

Sem perder tempo você se apronta, vestindo-se da melhor maneira que um servidor da marinha precisa se portar, carregando não somente no boné, mas também no centro da camisa o símbolo da Marinha. Estava pronta para dar os seus primeiros passos em um futuro que demonstra ser promissor.

— Pode deixar, ela vai adorar. — Comentou Caito com um sorriso no rosto. Desde que a mulher se foi, ele mudou completamente a sua expressão facial e corporal; até mesmo parecia ser outra pessoa.

Agora vocês trilham mais uma leva de corredores, porém agora há uma abertura que dá acesso para o imenso pátio que todas aquelas paredes guardam, ainda por cima é possível observar os vários soldados da marinha que marcham de acordo com as ordens dos Sargentos. Tudo é extremamente organizado, seguindo padrões e alinhamentos surreais.

— Esse é o pátio central, é onde as ordens maiores são dadas e também onde há os treinamentos em conjunto. Também há algumas capitanias menores ao redor de toda a cidade que são usadas tanto para patrulha das águas e treinamentos das unidades. — Ele foca seus olhos pelos demais membros da Marinha, lhe explicando o funcionamento das coisas até que finalmente chegam a um imenso jogo de escadas, este que garante acesso para a parte de baixo rumo ao pátio. — Quando eu me alistei, pensei que esse forte não era tão seguro como parece, afinal os inimigos podem invadir por cima… Eu cheguei a mencionar isso para o Capitão Seballos, mas ele gargalhou por uns cincos minutos e depois me explicou que ninguém seria louco de pular aqui dentro. — Ele então segue até as escadas e espera que você o acompanhe. — Sabe, eu ainda acredito que haja alguém que seja louco a ponto de fazer isso… Com todas as histórias de seres monstruosos que existem por aí, não duvido de nada. — Ele dá uma risada um pouco desconcertada.

Logo ao fim de todos aqueles degraus, está a figura de um homem alto e com os braços cruzados, seu corpo é robusto e as roupas da marinha quase que não lhe servem. De início é quase que impossível notar de quem se trata, mas assim que vão se aproximando o jovem marinheiro rapidamente se apresenta, levando a crer que você também deve fazer o mesmo.

— Capitão Seballos! — Ele leva a mão destra imediatamente contra o boné em posição de sentido. — Caito Prosbell se apresentando, senhor. — Sua voz demonstra firmeza, diferente das situações anteriores.

Aquele homem imenso rapidamente depositou os olhos em vocês dois, estudando-os silenciosamente, mas sem perder a feição simpática no rosto. Certamente era um tanto quanto estranho, afinal uma cicatriz quase atravessava seu rosto de um ponto ao outro, passando quase que eu cima de seu olho esquerdo.

— Perfeito, você irá servir... — Ele menciona após realizar um breve aceno, ainda mantendo a mesma posição de antes.

Focando alguns segundos nos demais recrutas que marchavam sobre o pátio, o homem prossegue com as palavras, porém ainda se dirigindo a vocês.

— Na madrugada passada foi relatado por alguns marinheiros que alguns barcos atracaram próximos à Capitania do Leste. A princípio isso seria algo natural, muitas embarcações têm como destino essa Ilha, mas nesse caso disseram que alguns caixotes estavam sendo descarregados. Preciso que alguém do quartel se dirija até lá para coletar as informações a respeito da carga, mas isso sem causar qualquer conflito… — Ele novamente inclina o pescoço para trás, encarando Caito com um olhar firme. — Sabe como Stolas é, não sabe? — E então recua, deixando um suspiro escapar de seus lábios.

Ainda em posição de sentido, Caito apenas estufa o peito.

— Sim senhor! — Ele grita.

— E leve essa outra ai com você. — Ele completa.

— Levarei senhor! — Caito novamente responde.

Assim que possível, o rapaz rapidamente se vira para trás, encarando-a Kimiko. Você estava certa que essa seria a sua primeira chance de se provar como uma pessoa apta para seguir carreira dentro da Marinha e em razão disso teria de se esforçar logo de cara.

Estavam liberados para partir caso não houvesse mais nada para trabalhar dentro do Quartel.