Assim que estivesse longe do capitão, ela deixaria escapar gritinhos de empolgação. “Minha. Primeira. Missão. Isso é tão incrível…", Kimiko levava as mãos entrelaçadas ao peito, enquanto seus olhos brilhavam, a garota estava fascinada. “Aposto que tenho muita coisa pra aprender com você”, sorriria para Caito, já deixando transparecer o fato de que ainda era uma adolescente.

Enquanto andavam pelo QG ela falaria “Sr. Prosbell, além do meu chicote, eu sou uma boa lutadora, seria possível pegar emprestado do QG grevas ou manoplas antes de ir ao local? Não que eu queira arrumar qualquer confusão, seria apenas por precaução mesmo”, se houvesse uma resposta positiva, iria diretamente ao arsenal da marinha, e faria todos os trâmites legais necessários para completar o seu armamento. Se a resposta fosse negativa, apenas falaria “Entendo…” e perguntaria “Como devemos chegar ao local? De barco ou apenas uma boa caminhada?”


E, durante a ida, perguntaria “Eu me lembro de ouvir o capitão falando sobre um tal de Stolas, quem é essa pessoa exatamente?”

AMiyazaki apenas se limitava a observar o desconforto do seu colega de trabalho, mas não chamava atenção para isso, respeitando seu espaço pessoal. Não se conheciam a muito tempo, por isso, era de se esperar que ele não a fizesse de confidente. Ou será que ele escondia algo em particular?

Kimiko havia aprendido com seu tio, que não precisava mudar a sua personalidade agradável e gentil, para ser uma pessoa forte. Existem vários tipos diferentes de força. E ser amigável com as pessoas, fazia com que elas se tornassem mais acessíveis, mais confortáveis com a sua presença, às vezes, permitiam-se deixar escapar informações importantes, e até mesmo a subestimar, lhe traria algumas vantagens na vida.

A garota posicionava as grevas como de costume, assim como as manoplas, desde que essa última não fosse rígida demais a ponto de comprometer seus movimentos com o chicote. Partindo assim, com Caito até o local da missão. Enquanto falavam do comodoro Stolas, Kimiko pensava que gostaria de uma oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. As peças importantes da marinha estavam espontaneamente surgindo à sua frente: O Capitão, A Comodoro Alura e o Comodoro Stolas. Ter uma boa rede de influência era importante para qualquer profissão. E se não conseguisse manter uma relação amigável com eles, teria que saber como eles funcionam, para ao menos manter uma relação de respeito.

A construção parecia bem protegida e armada, e a bandeira da marinha imperiosamente erguida era um espetáculo à parte. Na margem, a garota notava algumas embarcações com bandeiras piratas, talvez seriam embarcações apreendidas? “Que tipo de bagunça exatamente rolou na noite passada?” questionaria ao homem ao seu lado. Aproveitando, perguntaria logo em seguida, “Como você está a mais tempo aqui, e é o principal encarregado da missão, gostaria de acompanhar suas decisões. Vamos procurar um lugar para ter uma visão mais ampla. Se me permite, gostaria de perguntar se não haveriam mais cargas dentro da capitania também”

Miyazaki seguiria Caito, o acompanhando para um lugar onde pudesse ter essa visão ampla. Observaria não só as cargas, mas também o perímetro em terra, ou no mar, tentando identificar algo suspeito.

“Certo” Kimiko assentiu, seguindo Caito por um segmento de escadas em espiral, que terminavam em uma porta dupla, robusta e pesada. A garota passou a mão na porta despretensiosamente, imaginando se seriam feitas de Jatobá ou Eucalipto. Não entendia tão bem de estruturas ou construções, mas gostava de tudo ligado à natureza.

No topo da torre, podia ter uma ampla visão do local. Podia não parecer grande coisa, para quem trabalhava ali todos os dias, mas Miyazaki se encontrou encantada com a vista. Apreciou o momento por alguns segundos, enquanto os ventos traspassavam seus cabelos azuis como o mar.

“Acredito que de todos os lugares, esse deveria o que seria mais bem vigilado. Aparentemente estou errada” questionava a Caito.

Kimiko percebia que algo chamava a atenção do rapaz. E então, olhava exatamente na direção que Caito estava olhando, e se deparava com alguns marinheiros, bebendo e rindo, como se estivessem curtindo um feriado.

“Se eu soubesse que teria uma festinha, eu teria me vestido melhor. As aparências por aqui, parecem ter mais importância que o dever”, seu rosto estava severo, enquanto a garota cuspia as palavras com desgosto. Era um outro lado de Miyazaki, a qual Caito presenciara pela primeira vez. Dever e honra estavam presentes em seu sangue, e a sua criação só fez com que fosse enraizado mais fundo em sua alma. “Não é do meu feitio, me meter na vida dos outros, mas isso que estou vendo é uma tremenda falta de respeito. Imagino que essa situação seja suspeita o suficiente, para analisarmos mais de perto, não?” questionava ao rapaz. “Vamos! Ver aquilo já está me dando urticária. Talvez encontremos algumas pistas sobre a carga suspeite no meio daqueles preguiçosos”.

A garota refletia sobre o que Caito disse, e com um suspiro responderia, “Belas palavras”

Kimiko cumprimentava com a cabeça ou um sorriso, qualquer pessoa que cruzasse o olhar com os dela. Também prestando atenção nas pessoas que pareciam tentar evitá-los.

“Apesar de preferir arrancar ervas daninhas diretamente pela raiz, acredito que uma abordagem um pouco mais sutil seja a melhor opção. Afinal de contas, eu sou apenas um soldado, e aprender a obedecer ordens sem questionar é uma habilidade importante”, a garota continuava falando como se estivesse apática, "Poderíamos tentar chegar próximo o bastante para ouvir a conversa, sem que nos vissem. Para tentar ouvir algo útil, mas não tenho a esperança de que saia algo benéfico da boca desse bando de bêbados. Me diga Caito, o que você faria?”

Miyazaki faria o que os dois tivessem acertado. Afinal, não pretendia ser uma desordeira que descumpre ordens no seu primeiro dia. Se tinha algo que a garota aprendera, é que algumas ordens não faziam o menor sentido, mas seus superiores sabiam de coisas que ela não sabia, e contavam com a experiência de anos, para justificar suas decisões. Se não pudesse confiar em seus superiores, talvez não devesse estar ali.

Kimiko pegava a deixa, uma oportunidade perfeita para tentar descobrir mais sobre a empreitada. Sorria radiantemente, e tomava as mãos de Caito, “Um show! interessante. O clima de hoje está mesmo incrível, seria um desperdício recusar as bebidas” então, puxava Caito pela mão na direção deles, como um casal de namorados faria. Chegando perto estenderia a mão para pegar a cerveja, mas antes de tocar nela falaria “Droga, não dá pra fazer isso agora, a gente tem que ficar de olho naqueles idiotas. Se eu tiver que olhar mais uma vez na cara de um pirata imundo, eu juro que vou vomitar. Eles todos poderiam sumir de uma vez, que eu nem me importaria. Vamos, temos trabalho a fazer!”, falaria isso com convicção, afinal, também não gostava de piratas, e misturar verdades com mentiras gerava mais credibilidade nas pessoas. Kimiko estava tentando gerar empatia com os marinheiros, e coletar o maior número de informações possível. Ou até mesmo, fazê-los pensar que os ajudaria no esquema deles.

Kimiko tinha algumas suspeitas, após ouvir escondida o que os homens haviam falado anteriormente, imaginava que alguém estava planejando um atentado aos piratas, e caixotes haviam sido levados a cidade, mais foram barrados em algum canto, a Marinha deve ter um galpão ou coisa parecida para guardar coisas apreendidas. Mas seja la o que estava dentro deles, poderia ser algo capaz de eliminar os piratas da ilha, talvez algo perigoso o suficiente para ferir civis desavisados. Bom, se algo estava acontecendo, e os superiores não sabiam, não deveria ser algo correto. Ficaria com isso em mente para conversar com Caito quando se afastarem dos homens.