DESCRIÇÃO
Turckle é um rapaz de estatura alta, possuindo ao todo 1,87m e uma musculatura bem distribuída em sua composição. Várias cicatrizes pequenas estão espalhadas por seu corpo, parte delas acobertadas pelas tatuagens geométricas que circulam quase que toda a extensão dos braços e tronco, sendo estas um pouco apagadas pela pele já judiada pelos muitos anos em que está no mar. Seus cabelos são azulados e repicados, os olhos são castanhos e quase sempre acobertados por um óculos avermelhado de extremidades pontudas, sendo a sua característica mais marcante o sorriso enfadonho que impera em seus lábios quase que sempre.
Sua voz é alta e quase sempre toma a frente dentro de qualquer outro debate, sendo um fator importante, visto que é um jovem que possui uma visão de mundo ampla e constantemente levanta questionamentos acerca de quase tudo. Todavia, é fácil notar que Turckle é alguém simpático, ele possui empatia pelo próximo e também entende o peso de proteger os seus companheiros. Atualmente, suas ambições beiram as do homem que um dia o acolheu dentro de seu navio, tornar o bando dos Piratas Alvar grandioso.
Ocasionalmente, ou quando sozinho, muitas pessoas dizem que o rapaz parece conversar sozinho ou atirar palavras pelo ar, muitas vezes cita nomes distintos, esbraveja para que as crianças fiquem quietas e até mesmo cita canções de ninar na esperança de acalmá-las. Membros da antiga tripulação de Don Alvar deduziram que os tempos em que Turckle permaneceu encarcerado durante o sequestro foram tão traumáticos ao ponto de que ele ainda pode escutar as crianças conversando em sua mente, onde lhe importunam boa parte do tempo.
HISTORIA
Tudo o que pude fazer foi esgueirar os olhos de dentro daquele caixote, as frestas entre as tábuas que formavam o mesmo possibilitaram que o mínimo de luz conseguisse entrar ali. Os gritos das demais crianças certamente poderiam ser escutados de muito longe, mas não havia solução para aquilo, por mais alto que pudesse gritar, jamais qualquer ajuda surgiria. É besteira dizer que não apelei ou supliquei por liberdade, mas no fim, apenas estava machucando a minha própria garganta.
Os barulhos de meu estômago cessaram, meu corpo também deve ter se cansado de implorar por comida. Meu corpo - totalmente desnutrido - sofre cada vez que eu tento movê-lo; apesar da falta de espaço.
— Eles não calam a boca, o que vamos fazer com esses ratos? — A voz surgiu no fundo, quase que inaudível por conta dos gritos dos demais.
Um som contínuo sobre os caixotes ecoou, algo parecia bater sobre eles, fazendo com que parte de toda aquela histeria sumisse aos poucos. Não pude observar muito bem a princípio, porém não tardou muito para que então percebesse as gotas escorrendo entre as frestas. Um fio avermelhado desceu da região superior daquele caixote irregular, sujando parte de meu rosto e me dando a conclusão de que aquele líquido quente se tratava de sangue.
“Estão matando eles?” — Questionei, não controlando o tremor que se levantou por todo meu corpo.
— Jogue-os no mar, o peso vai apenas atrasar nossa viagem mesmo. Uhahahaha. — A voz era rouca, mas também um tanto quanto grave. Ele parecia estar se divertindo com aquilo, mesmo que seus lucros fossem reduzidos ao se livrar de algumas das suas cargas vivas.
— Deixar isso à deriva não vai entregar a nossa posição para a marinha, capitão Stevens? — Indagou o mesmo homem de antes.
— A marinha é o menor de nossos problemas, se por acaso cruzarem o nosso caminho, vou adorar esfregar as documentações certificadas pelo próprio governo mundial. Somos garotos de entrega agora, Viana.
Não havia para onde ir, tudo o que estava ao meu alcance era escutar e então aceitar o destino proporcionado para uma criança com a vida toda pela frente. Ao levar pelos comentários que escutei anteriormente, estavam prontos para nos levar para um campo de obras onde serviremos como “operários voluntários”; é óbvio que o termo escravo é o mais cabível nessa situação em si.
De que serventia teria uma criança desnutrida? Simplesmente fechei os olhos, recolhi a cabeça até que pudesse encostá-la e supliquei continuamente em minha mente para que qualquer deus que fosse, simplesmente me levasse embora de uma vez por todas. Já estava farto do cheiro de sangue e dos gritos daquele lugar.
Dias e mais dias se passaram, quase nem ao menos podia abrir os olhos, vez o outro atiravam água na direção das caixas, mas não era o suficiente para conseguir saciar a sede. Morrer passou a ser uma esperança, mas cada vez mais isso parecia estar mais long.
Em certo momento, talvez não estivesse tão lúcido, pelo menos foi o que consegui concluir em cima dos devaneios de minha mente. Um estrondo trouxe boa parte dos homens que estavam a bordo em alerta e então as movimentações começaram.
Podia ouvir grunhidos, sons de passos e batidas contra o casco. Tudo se tratava de uma noite silenciosa, visto que não podia ver nada além de tochas que vagavam de um lado para o outro dentro da embarcação.
Durante horas tudo aquilo prosseguiu e eu não consegui pregar os olhos diante de tudo.
— Você acredita que já foram todos? — Comentou alguém.
— Boa parte foi retalhada, com exceção do capitão. — O outro respondeu.
— O Don está furioso, ele com toda certeza tem algo programado para fazer com aquele sujeito… — Surgiu uma terceira voz.
— E quanto aos tesouros? Podemos levar? — Continuou o primeiro.
— Façam o que quiser…
O silêncio se instaurou. Aquelas pessoas não faziam parte da tripulação que havia nos sequestrado, talvez fossem marinheiros.
Fiz o possível para tentar bater contra o caixote, queria chamar a atenção daqueles homens para que resgatasse a todos. Meu corpo quase não respondia, mas a chama que ainda me mantinha vivo fez eu gesticular e conseguir fazer o mínimo.
— Ei, ouviu isso?
— Parece vir daquele amontoado de caixotes… Devem ser ratos se aproveitando da comida mofada.
— Não… Foi um som diferente. — Aquela pessoa caminhou, sons da madeira sendo quebrada seguiram de fora a fora e então pude ter um pouco de esperança.
— Que cheiro horrível… Parece que tem algo mor…
— Covardes…
Minha visão ficou turva, nesse instante eu já não pude ver mais nada. Em algum momento o caixote onde eu estava foi deslacrado, pude ver os rostos ao meu redor e as pessoas me carregavam. Me atiraram sobre os pés de um homem grande com uma barba bem desenhada, ele tinha charuto em sua boca e roupas avermelhadas.
Naquele dia, não fui atendido pelas minhas preces em que buscava a morte, mas ainda assim, pude renascer.
Muitos questionaram o que havia acontecido com as demais crianças, de fato todas morreram ou foram mortas, talvez o fato de se apegarem tanto às suas vidas e a esperança de viver lhes trouxe um fim ao seu sofrimento de ter o seu bem mais precioso tirado. Eu fui fadado a maldição de continuar em pé, carregando os fatos que aconteceram dentro daquela embarcação, com o peso de todas aquelas mortes que aconteceram e os familiares jamais saberão do desfecho.
Sem forças para prosseguir, fui acolhido por uma nova família, pude finalmente manter a felicidade e herdar as vontades daquele amontoado de homens grotescos, mas ainda assim com um imenso coração. Com um novo nome, passei a ocupar a tripulação dos piratas de Don Alvar, servindo como um aprendiz dentro do bando.
Recentemente, após um longo período de bebedeira, o rapaz simplesmente acordou na costa de uma pacata ilha em um dos Blues, de fato não compreende muito sobre a região e também não possui qualquer notícia a respeito de seus antigos companheiros. Tudo o que se sabe, é que está muito longe de casa, muito longe mesmo.