O Ditador

Cartas do passado e um futuro brilhanteArslan Dain

A lua já se aproximava da metade do céu. Era minha primeira noite no posto avançado da ilha das laranjeiras e havia acabado de levar uma bronca gigantesca. Quando estava para dormir, recebi a visita de Fawkes, um dos gaviões mensageiros dos Dain. Minha família tinha a tradição de criar aves de rapina para carregarem relatos por aí, contando nossos feitos para os centros de treinamento de onde havíamos saído. No meu caso, aquele era o gavião do meu avô, Julius Dain. Com afinco, voltava a escrever a carta, enquanto lembrava-me dos acontecimentos.

Flashback On

Estava ainda em choque após ler aquela matéria no jornal. A bem da verdade, sequer sabia onde havia me metido quando fui parar naquele navio. O que mais havia me impactado, entretanto, foi a provocação feita ao capitão Sancho no final da matéria. Aquele homem era com certeza o sujeito mais assustador que eu já tinha conhecido e era fácil deduzir que aquilo voltaria contra mim.

Apesar disso, quando Sanchu me deixava sozinho na sala, eu voltava a olhar para o jornal - Herói… De todo o East Blue? - Ficava totalmente ruborizado ao ler novamente aquele trecho da entrevista. Sentia meu coração se aquecer, vendo pela primeira vez que estava no caminho certo para a realização do meu sonho. Deixando escapar um sorriso em meu rosto, pegava escondido aquela matéria de jornal para levar comigo na viagem, orgulhoso de mim mesmo.

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Recebia instruções de como seria a viagem e de para onde iria. Quando me recuperava do choque, via que os marinheiros estavam prestes a partir. Lembrava, entretanto, que ainda tinha uma tarefa que queria realizar na ilha. Por sorte, estava bem a caminho do porto. Corria a frente de todos em direção ao pier que, sem querer, havia ido parar na missão anterior. Lá, passava alguns segundos varrendo todo o lugar com os olhos.

- S-senhor! - Ficava ruborizado ao chamar a atenção do velhinho que havia varrido o local. Aquele mesmo senhor que, naquele dia, me indicou a embarcação dos Hannibal - Não sei se lembra de mim, mas preciso de agradecer! - Dizia sem que o velho pudesse entender muita coisa.

- Graças a você eu fui parar naquele navio e pude deter aqueles piratas terríveis - Dizia, tomando coragem - Agora… Agora estou um passo mais próximo de me tornar o herói que sempre quis ser. Muito obrigado, mesmo! - Mesmo completamente vermelho, fazia uma saudação ao velho varredor e então voltava a correr, agora na direção do navio.

Flashback Off

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Finalizava a carta sentindo toda a determinação de meus novos ideais. Finalmente dobrava o papel e o colocava no bolso que vinha junto de Fawkes, após um pequeno carinho no animal, ela voltava a voar. Observava nostálgico até que o gavião sumisse de vista. Por fim, me deitava para finalmente dormir. Os próximos dias seriam bem agitados.

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No dia seguinte, era acordado por um soldado que dizia que Victor e eu estávamos sendo chamados na sala do capitão. Engolindo em seco enquanto me perguntava se levaria outra bronca, me levantava e consentia, dando bom dia a Victor em seguida. Não demorava para me arrumar e comer, pois sabia que um atraso poderia aumentar a bronca. Com tudo pronto, seguia rumo a sala do capitão junto de um Victor que também não parecia nada animado para isso, nem mesmo tendo energia para me provocar.

Chegando à porta da sala do capitão, era repentinamente parado por Victor que parecia ouvir a conversa lá dentro. Desta vez, ele tinha um sorriso zombateiro no rosto. Prestando atenção, eu também conseguia ouvir a discussão entre os Sanchos - Não, eu me recuso - Dizia o capitão, parecendo estressado com algo - Você não pode se recusar, eles tem todos os requisitos e, se quer saber, são de longe os mais indicados e promissores daqui - Um estrondo algo, como se alguém socasse uma mesa, era ouvido - Não diga isso nunca mais! Aquele garoto não passa de um idiota! E o outro… - O outro, o que? - Sanchu falava quase em um tom de desafio - Droga, Sanchu! Tá bom! Mas você faz isso! - Ele bradava, mas era possível ver o tom de derrota em sua voz. Victor parecia estar aproveitando aquilo bastante - Com todo o prazer! Mas sabe, capitão? Às vezes você parece uma criança… - Após o som de alguns passos, a porta era aberta. O olhar de Sancho era amedrontador ao ver que estávamos ali esse tempo todo - Venham comigo, sim? - Sanchu dizia em um tom vitorioso e sarcástico.

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Seguíamos o tenente até o pátio principal do forte. Lá, parecia que vários marinheiros se reuniam nas clássicas fileiras. Sanchu instruía para que Victor e eu nos colocássemos à frente e então víamos Sancho o acompanhando de má vontade logo atrás. O povo da vila parecia também se juntar ali, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Logo, o tenente começava a falar - Bom dia a todos. Quero primeiramente dar as boas vindas ao povo da vila Tokoyami que desde ontem se juntaram a nós e tão cordialmente nos ajudaram na preparação do forte! Ficamos muito gratos em receber a solicitação de vários dos nossos convidados para o alistamento, mesmo que temporário. Depois de conversar com o capitão Sancho, decidimos dar-lhes as boas vindas às nossas fileiras e ao esquadrão de recuperação de Conomi Island - Sanchu começava a bater palmas e logo era seguido por todos os outros marinheiros, que ainda olhavam com um pouco de receio para a cara de poucos amigos que Sancho tinha naquele momento.

Após alguns segundos de aplausos ininterruptos, a euforia começava a parar aos poucos e Sanchu pigarreava para conseguir silêncio, pouco antes de começar a falar novamente - Em outro anuncio, graças aos esforços de alguns bravos soldados conseguimos tempo e espaço o suficiente para instalação desta base. Por isso e também devido a sua força, tenho satisfação e orgulho em anunciar a promoção à Sargento dos soldados Victor Pança e Arslan Dain! - Sentia meu coração disparar e meu rosto inteiro corar. Não esperava aquela notícia e nem a atenção que vinha depois. Ao mesmo tempo em que sentia meus olhos se encherem de lágrimas de orgulho e gratidão, por estar um passo mais próximo do meu sonho, queria me esconder de toda aquela atenção e principalmente do olhar matador que o capitão tinha em minha direção naquele momento.

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Qualquer euforia que sentia em meu coração, entretanto, era interrompida quando o *toc, toc* das passadas da perna de pau de Sancho eram ouvidos no palanque. Ele tinha desta vez um sorriso no rosto, mas parecia bem maldoso - Meus parabéns, meus parabéns… MESMO! - Ele dizia em um tom sarcástico e um tanto quanto ameaçador, mas havia também uma falsa cortesia em sua fala - Por quê os dois não vem aqui na frente para mais um anúncio? - Ele dizia, e então eu sentia minhas pernas travarem. Com certeza não vinha coisa boa aí. Sentia a mão de Victor me empurrar junto dele e só assim conseguia começar a me mover - Vem, bonitinho. Temos que encarar isso aqui. Você não quer ser um grande herói? - Corava mais ainda, me perguntando como ele sabia disso. Como se pudesse ler minha mente, Victor respondia com um sorriso zombateiro em seu rosto - Você fala dormindo!

Chegava então à frente do palanque. Todos aqueles olhos voltados para mim eram assustadores ao ponto que eu sequer tinha energias para sair correndo dali. Apenas conseguia tremer, tentando inutilmente segurar este impulso. Sancho parecia estar gostando da situação - Eles crescem rápido, não é? Parece que foi ontem que o açougueiro de Shells Town foi encontrado sozinho após um massacre no navio dos Hannibal… - Ele ria sozinho e logo era seguido por risadas forçadas dos outros soldados - Como eles tomaram a iniciativa de trazer todos os aldeões até aqui, quero anunciar que os novos sargentos ficarão encarregados do treinamento dos aldeões… Começando hoje a tarde, espero bons resultados - Para qualquer outro, aquilo poderia ser uma tarefa normal. Para mim, assumir a responsabilidade por tantas pessoas era tão ruim como a morte, e o capitão parecia saber muito bem disso. Era fácil ver em seu rosto que estava se divertindo. Quando os soldados se dispersaram, eu ainda estava parado no palanque, sem conseguir me mover. A voz de Victor ao lado de Sanchu enfim me despertava.

- Vamos lá, gracinha. Temos que nos preparar

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Passei as horas seguintes sendo acalmado por Sanchu até que este teve outros compromissos e precisou se retirar. Com o corpo tremendo, caminhei até o pátio do forte no cair da tarde e lá encontrei Victor e vários recrutas, incluindo Juninho e Jorginho que pareciam bem dispostos e animados. Ao verem nossa chegada, os novatos batiam continência e se punham em fila. Tomando a frente do grupo ao lado de Victor, via todos aqueles olhos voltados para nós e fazia com que meu companheiro tivesse que tomar a iniciativa ali, muito porque eu não tinha condições de falar alguma coisa.

- Vamos lá, gracinha. Temos que nos preparar

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- Sejam bem vindos, recrutas! - Ele falava em seu tom habitual - Como viram hoje de manhã, eu sou o sargento Victor Pança e esse menino tremendinho aqui do meu lado é o sargento Arslan Dain! - Ele tinha seu tom habitual. Na verdade, parecia estar gostando daquilo - Graças ao sadismo do meu pai de querer me manter ocupado e ver o heroizinho aqui passar vergonha, fomos encarregados do treinamento de vocês. Mas não se preocupem, prometo que não sou tão… Severo… quanto o meu velho! - Ele ria consigo mesmo - Quer falar alguma coisa, Arslan? - A resposta, era apenas minha boca tentando se abrir mas mantendo o silêncio - Imaginei que não! - Ria sozinho mais uma vez. Eu sequer conseguia olhar na direção dos recrutas para saber suas reações.

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- Bom, hora de começar meu povo! Como as armas de vocês ainda estão sendo preparadas, hoje faremos treinamentos físicos, tá bem? Vamos treinar para deixar esses glúteos bem durinhos! - Victor começava a coordenar o grupo em exercícios físicos bem pesados com os quais ele parecia se divertir em assistir. Nesse meio tempo, eu apenas conseguia assistir enquanto os aldeões pareciam sofrer naquela primeira tarde. A situação seguia assim por muito tempo, até que a noite caía e Victor dava o treinamento como encerrado - Muito bem pessoal! Agora descansar que amanhã tem mais! - Ele então se voltava em minha direção e começava a nos guiar até o nosso alojamento, quase como se precisasse me arrastar - Vamos embora agora, bonitinho. Obrigado por nada hoje!

Demorava a pegar no sono naquela noite. Havia finalmente recebido minha primeira promoção e, ainda assim, sequer havia conseguido fazer jus a ela. O quanto agir daquele jeito realmente me deixava mais perto de ser um herói? Me lembrava do dia anterior, de como havia sido tão confiante ao afirmar para Sui que me tornaria o maior herói do mundo, me perguntava o que era preciso para que eu ficasse assim de novo. Com esses pensamentos me atormentando, após um bom tempo eu finalmente pegava no sono.

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Na mesa do café da manhã no dia seguinte, sentava estático do lado de Victor, que me cutucava como quem busca um sinal de vida, sem obter resultado - Como pode? Alguém que luta daquele jeito ser… Assim? - Eu estava frustrado e queria mais do que tudo poder responder. Essa tinha sido, afinal de contas, a razão pelo meu mestre ter permitido que eu me alistasse na Marinha ainda tão novo. Depois de muito tempo, quando eu terminava de comer, era puxado pelo braço - Quer saber, bonitinho? Vem comigo, vem - Era levado ao pátio, mas ainda estava longe do horário de treinamento. A bem da verdade, a maioria dos recrutas ainda trabalhava na construção do forte naquele momento.

- Senhor Arslan, senhor Arslan! - Ouvia a voz de Jorginho, e então via os dois garotos se aproximando - Hoje você vai nos ensinar, né? Qual é, eu também quero aprender a fazer “Vuuuush” que nem o senhor - Ele parecia empolgado como sempre - É, sargento! Se vamos querer recuperar nossa ilha, vamos precisar que você nos ensine como lutar desse jeito. Quer dizer… Nada contra o que você ensina, sargento Victor - Ele parecia meio sem jeito no final - Ah, relaxa. Eu sei admitir quando alguém é melhor. E posso te ensinar coisas mais… Divertidas, depois - Finalizava com uma piscada que fazia Juninho não querer olhar mais para ele, envergonhado.

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A Queda de Yasin

Festival das Abóboras

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