Décadas atrás, antes do começo da Nova Era, existia uma ilha perdida no último terço do planeta azulado, localizada ao longínquo oriente do Novo Mundo. Ali residia um povo ancestral, descendentes dos antiguíssimos primeiros povos dos tempos de outrora, com três milênios de tradição e cultura. Eles eram os "Yurd". Essa tribo viveu pacificamente com a natureza ao seu redor, criando um vinculo profundo com fauna e flora da região. Dessa ligação surgiam as primeiras experiências extra corporais, elevando os seus sentidos á níveis nunca antes vistos. Uma relação que gerava frutos, metafórica e literalmente, estes dados e consumidos pelos os mais sensíveis ao espiritual, formando assim os seus "Shamans", aqueles nomeados pelo líder vigente. Estes homens e mulheres separados cultivam e alimentam o elo entre os Grandes Espíritos e o físico, criando assim os contatos com os seus deuses, gerando devoção e respeito de seus tribais.
A ilha possui uma hierarquia simples: Chefe da Tribo e Shaman. Os chefes eram os consagrados pelos místicos, garantindo que sua linhagem fosse receptáculo dos poderes da ilha, reconhecido como representante do plano físico ao Espiritual. Esses poderes tinham a oportunidade de sair da ilha e explorar o mundo numa certa idade, antes de tomarem seu lugar de direito. E assim o primogênito do último chefe de Yurd fez, saindo dali bem cedo, aos dezesseis, ganhando notoriedade, fama e poder. Então o momento de sua consagração chegou, pronto para recebe-la do Shaman atual, aquele que foi seu primeiro mentor, antes de sua partida, á dez anos atrás. O ritual se sucedeu e o novo chefe foi anunciado. Ali mesmo ele já instaurava novas regras, novos súditos, e um novo perigo, com essa ilha se tornando um dos territórios de um dos Imperadores do Mar.
E assim veio o fim. Uma visão dada a esse Shaman lhe mostrou o que estava por vir. Duas forças esmagadoras, espíritos tempestuosos retumbantes, o fogo infindável, o êxodo falido. O dia chegaria, cedo ou mais tarde. A perturbação já era sentida pelo Espiritual e não havia mais o que ser feito. Os espíritos, inquietos, se aglutinavam alvoraçados nos objetos de adoração de cada Shaman. O maior deles era a Galhada Sagrada: o objeto chamariz das entidades daquela região, garantidora da conexão do Shaman. O dever de carregar tal artefato foi entregue á esse profeta, desde o começo de sua jornada. Os avisos de mau agouro foram enviados para ele, ressoando em sua mente de todas as maneiras mais tortuosas possíveis. Era um fardo. É. O jovem chefe da tribo se preparava arduamente seus guerreiros, da terra e do mar, para enfrentar uma intensa batalha contra a tempestade vindoura. Escutava as visões, mas não podia se apegar a elas. Ele tinha de vencer. Vencer o inevitável: seu destino.
A guerra chegou. Levou todos ao fogo, ao som das chamas retumbante. A Tempestade caiu. Nuvens de Cinzas. Todas elas caem até hoje. Ele não pode fazer nada.
***
O amanhecer nesse lugar era o mais forte, e o mais belo. Muitos dos animais jubilavam anunciando a vinda do astro-rei. A clareira dentro daquela floresta alumiava na bendita hora. Ali meditava aquele homem. Os caçadores, andarilhos, guardas e curiosos observavam o náufrago morador dessa pequena floresta. Muitos lembram do dia de seu resgate. A praia lotada ao seu redor e derredor. Os jovens traziam as memórias de sua tenra infância, e os anciãos sua dificuldade á lembrar, mas a maioria deles conseguem trazer a mente a imagem daquele maltrapilho mal encarado nas areias escaldantes sendo resgatado daquele afogamento na praia leste de Baterilla. Todos tentavam adivinhar sua origem, mas a única coisa recebida era um nome, berrado ás alturas: Yurd. Com o sucesso do salvamento, o mesmo se libertou da enfermaria improvisada e se enfiou floresta á dentro, e desde então está a uma década instalado nela. Os boatos corriam á solta, como também as perturbações escandalosas á meia noite dos atemorizantes gritos guturais misturados com raiva e rancor.
Você pode encontra-lo ali, todos os dias, meditando por horas, auxiliando quem vier, bichos, planta ou homem, vivendo livremente pela fauna e flora. Porém não queira estar por perto quando ele "falar com os espíritos" ou ao ouvir seus gritos ecoantes no verde, pois esse homem, em episódios de raiva desmedida, já enfrentou a Marinha local inúmeras vezes, e saiu vivo pra contar história. Muitos desses marinheiros de primeira viagem disseram que já o viram se tornar num monstro. Outros cochicham na boca miúda que já o viram chamar a floresta, crescer árvores inteiras, derreter metal só de tocar, e até mesmo viram os espíritos que ele carrega! Boatos. Entretanto, se o encontrar num dia ruim, te desejo sorte. Vai precisar...